segunda-feira, 1 de novembro de 2010

FREUD EM WALL STREET

A felicidade não está concentrada nos pronunciamentos do presidente do Banco Central, nem na cobertura com quatro suítes anunciada no jornal, nem na concessionária da esquina. A felicidade tampouco está em algum serviço com prefixo 0900, não está em Bali e nem na farmácia que vende Prozac sem receita. Essa tal felicidade, mais procurada que bandido de história em quadrinho e filho desaparecido, não mora num único endereço. Ela tem uma escova de dentes em cada lugar.
Se não me engano foi Freud quem disse que, assim como um prudente homem de negócios não coloca todo seu capital num único investimento, não se deve esperar toda a satisfação de uma única fonte. Os riscos são altíssimos.
Uma profissão, pra começar. Deposite seus melhores neurônios nessa conta e corra atrás da rentabilidade.
Uma viagem. Duas. Várias. Retorno garantido.
Um hobby. Pintura, aeromodelismo, Internet, pólo aquático, uma horta, origami, criação de orquídeas, voluntariado. Um prazer secreto, cuja senha só você conheça.
O excedente aplique em livros, discos, delicatessens, cinema, num bom par de tênis, num colchão box springs, em silêncios, luares, conversas, sexo e num computador. Na falta de dinheiro e noções de informática, vale um grosso caderno de pauta. Escreva. Sonhe. Enlouqueça uma hora por semana.
Não espere toda a felicidade de uma única fonte. É Freud ensinando como economizar lamúrias. 
Martha Medeiros - publicado na Revista Época

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