sábado, 17 de julho de 2010

A CULTURA POP E EU

Existe um grande problema quando você cresce vivendo e consumindo a tal da cultura pop. Você passa a basear a sua vida em tudo o que você aprendeu com filmes, desenhos, músicas e livros, de forma que ao se deparar com um problema de verdade, descobre da pior maneira que nem tudo é perfeito como parecia.
As suas aventuras não são tão legais como a dos filmes. Por exemplo, a primeira vez que assisti Os Goonies, minha reação imediata após os créditos finais foi pegar a bicicleta e sair a procura de um tesouro ou qualquer coisa do tipo. O máximo que consegui foi quase ser atropelado e chegar em casa desanimado.
Outra coisa que me deixou bem incomodado por ter crescido assistindo a esses filmes de superação, é que depois de uma surra para os caras mais velhos e essas coisas, não havia nenhum “zelador” oriental, simpático e mestre de Karatê pra me ensinar a luta mortal. Resultado, mais algumas surras de leve.
Não vou nem citar a frustração que é ser picado por uma aranha esperando adquirir super-poderes e, no máximo, conseguir uma gangrena no braço esquerdo e uma experiência de quase morte. Muito menos as escoriações e ossos quebrados depois de tentar saltar do topo do prédio vestindo uma “capa” vermelha e uma cueca sobre a calça.
Você ou algum amigo, provavelmente, já pensou em tirar carteira de motorista e comprar um carro pra impressionar uma garota, não é mesmo? Vai dizer que não era triste ver aquela turminha popular dando role de carro e você ali, parado há 20 minutos esperando o seu ônibus? Pois é.
Isso sem contar as inúmeras vezes que entrei pelo cano, sem nem ao menos salvar a princesa…
Porém, nada supera a decepção que foi a minha vida sexual no final do colegial e durante a faculdade. Se tem uma coisa que eu aprendi com os filmes, é que o período ideal para desenvolver toda a sua habilidade sexual compreende a formatura do colegial até o final da faculdade. Você viveu todos aqueles anos na escola simplesmente em função disso. Infelizmente Hollywood estava errada, mais uma vez.
Em relação as festas, mais um engano. Sabe aquelas putarias regadas à muita cerveja, vodka e strip-poker? Podiam até rolar, mas não nas festas em que eu fui chamado, o que provavelmente me leva a crer em duas possibilidades:
1 – eu não era maneiro ou sexualmente atrativo o bastante para ser chamado para as verdadeiras festas da faculdade.
2 – convivi com um bando de freiras.
Eu não tenho a menor vontade de contar as minhas histórias frustrantes de faculdade para os meus filhos ou netos, porque será algo tão monótono quanto uma partida de xadrez. Arrisco a dizer que a festa de 12 anos da minha prima gerou mais historias pra ela e as amigas e amiguinhos do que todos os meus 4 anos de faculdade. Não é pra rir, é pra chorar de decepção.
Acredito que o mesmo está pra acontecer com essa geração Colírio. O que vai ter de garota viajando pro litoral esperando encontrar, na casa ao lado, três vizinhos sozinhos parecidos com o Dudu Surita, Caíque Ribeiro e Federico Devito não vai ser brincadeira, e a frustração será a mesma. Ou não, as vezes o vizinho sou eu. Heh.
As melhores lições, porém, vieram das músicas. Acredito que o motivo seja, na grande maioria dos casos, que as composições foram realizadas depois de o autor passar por algo parecido com o que nos incomoda.
Todo mundo já sofreu por amor, todo mundo já saiu pra curtir com os amigos e, todo mundo já escreveu alguma letra pensando em alguém.
Os Beatles estavam certos em 90% das suas músicas, e, veja bem, não quer dizer necessariamente que eles passaram por essas coisas. Tudo o que nós precisamos é de amor e segurar a mão de alguém. Se você precisa de ajuda, é só pedir por socorro. Mas, sempre terá algo no jeito que ela se move que desperta a sua atenção, e isso ninguém aprende na escola.
Quem nunca pensou em The Cure quando viu as fotos de alguém na parede? Ou simplesmente ficou mais animado em uma sexta-feira enquanto estava apaixonado? E mesmo depois de um fora, você continuou firme, porque garotos não choram.
Claro, isso não se aplica a todos, só aqueles que viveram e tiveram as suas raízes na cultura pop americana/britânica, o que é o meu caso, obviamente.
De qualquer forma, a vida real pode ser bem diferente do que os filmes, livros, quadrinhos e músicas nos mostram, mas, é inegável que eles moldaram o meu caráter de forma precisa. E eu nem precisei criar uma garota nota 1000 pra isso.

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